sexta-feira, 12 de julho de 2013

54 - As Jornadas de Junho (Parte VIII)


Pessoal, seguem trechos de um texto do jornalista Reinaldo Azevedo sobre o Dia Nacional de Lutas – uma fracassada tentativa de paralização do país organizada por vários sindicatos de trabalhadores e partidos políticos, que reivindicaram, entre outras coisas, a redução da jornada de trabalho e o fim do fator previdenciário (aplicado no cálculo para o recebimento da aposentadoria integral, estimulando o trabalhador a adiá-la). Como outros analistas, ele faz uma comparação entre a manifestação de ontem (dia 11 de julho) e os protestos de junho. Destaquei em negrito as partes que considerei mais interessantes.


Micou de maneira retumbante o tal Dia Nacional de Lutas. A CUT, a Força Sindical, outras centrais e os partidos políticos de esquerda foram malsucedidos na tentativa de pegar carona da onda de protestos que sacudiu o país. Houve, sim, muita atrapalhação nas estradas, ocupação em porto, escaramuças, dificuldades aqui e ali, mas nada nem remotamente parecido com os protestos havidos no mês passado.

O que significa o micão desta quinta, em contraste com aquele milhão e meio de dias atrás? Significa que reivindicar o inexequível é bem mais gostoso, o que nos remete a um dos lemas de Maio de 1968, na França: “Seja realista, peça o impossível”. O evento também expõe uma das forças e, ao mesmo tempo, das maiores fragilidades da “onda de protestos” no Brasil: a composição social de quem vai ou foi às ruas. O primeiro passo para responder de forma eficiente à realidade é admiti-la: os pobres, com raras exceções, preferiram, até agora, ficar em casa.

Lastimo é que a pobreza de liderança política no Brasil se reflita também nos sindicatos e que estejamos sem o fio que possa desatar o nó.

Cobrar redução da jornada e fim do fator previdenciário, olhem que coisa!, parece apequenar o movimento e a razão por que se vai às ruas; é, como diriam os adolescentes hoje em dia (de maneira irritante), “tipo assim” coisa de pobre, de um pragmatismo incompatível com o sonho e com as evocações românticas. Os “sonháticos” querem um outro mundo possível… Não! Na verdade, pretendem um outro mundo… impossível. Nele, não só os políticos não roubam como, a rigor, não há políticos nem política.

Líderes que efetivamente representam grupos e com os quais se podem fazer acordos mobilizam meia dúzia de gatos-pingados; não líderes – e que, portanto, não lideram, mas alçados pela imprensa à condição de estrelas da não representação – conseguem criar eventos que reúnem alguns milhares.

Há quem se deixe cair de encantos por um paradoxo cuja graça, havendo alguma, é não mais do que literária – e literatura meio velha, da década de 60: a “juventude” que está nas ruas tem força, mas não sabe o que quer, e os que sabem o que querem já não têm força. Mas onde está a virtude desse troço? Se isso produzir algo, tenho minhas dúvidas, será, no máximo, um impasse. Para o qual ninguém tem resposta.

Texto completo em http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/geracao-facebook-diz-nao-a-forca-sindical-a-cut-e-aos-partidos-politicos-e-dia-nacional-de-lutas-vira-um-grande-mico-falha-tentativa-dos-aparelhos-de-ganhar-as-r/

 

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