sábado, 30 de agosto de 2014

68- A Terceira Via e as eleições de 2014 no Brasil


Um "longo textinho" meu a respeito da base ideológica dos candidatos ao governo do Brasil:

Desde 1994, todos os principais presidenciáveis defendem para o Brasil alguma modalidade de TERCEIRA VIA, uma política intermediária entre a total ou ampla estatização da economia (proposta pelo socialismo marxista da extrema esquerda) e a não intervenção estatal ou Estado mínimo (proposto pela direita liberal, chamada também de "neoliberal").  A ideia de um "terceiro caminho" de modernidade (a sociedade industrial e secular) entre o socialismo estatizante e o capitalismo liberal ganhou força no Ocidente com (1) a transformação do socialismo reformista, que preconizava abolir o capitalismo gradualmente por meio de reformas, na SOCIAL-DEMOCRACIA (processo iniciado no final do século XIX e concluído em meados do século XX) e (2) com ascensão do FASCISMO/NAZISMO (décadas de 1920 e 1930). Ambos possuíam em comum a aceitação de um capitalismo regulamentado, se necessário com a estatização de um setor ou outro, combinado com amplos serviços públicos e uma legislação social que protegeria os trabalhadores na economia de mercado. Era a idealização de um Welfare State ou Estado de bem-estar social, objetivo reforçado pelas ideias econômicas do keynesianismo (Estado interventor estimulando a geração de empregos, inclusive com obras públicas) difundidas sob o impacto da Grande Depressão dos anos de 1930. Obviamente, existiam diferenças entre esses tipos de "terceiro caminho". Entre elas podemos destacar a manutenção da democracia liberal (multipartidarismo, eleições livres, liberdade de expressão, tolerância ideológica) e de sindicatos livres pela social-democracia e sua substituição, no fascismo, pela ditadura monopartidária em nome de um nacionalismo extremista (o partido representa a nação e submete o indivíduo e todas as classes a sua liderança), com sindicatos controlados pelo governo. Essas duas modalidades gerais de "vias alternativas" (a democrática e a autoritária), com suas variáveis, existem até hoje. Algumas enfatizam uma maior presença do Estado na economia, outras uma maior desregulamentação e algumas privatizações (essas são erradamente acusadas pelos estatizantes de "neoliberais") . Algumas são mais intolerantes com a oposição política, outras sabem conviver democraticamente com a crítica e a divergência.  Mas todas defendem, em graus variados, uma presença do Estado na economia, serviços públicos de qualidade e legislação social e trabalhista, de uma forma que tanto os liberais clássicos e os socialistas marxistas condenam. Os liberais clássicos consideram que o "terceiro caminho" limita a livre iniciativa no mercado e impede ou reduz drasticamente o progresso econômico. Os socialistas afirmam que o "terceiro caminho", por preservar o capitalismo, mantém as diferenças de classes (e, portanto, a "luta de classes") e impede a construção de uma nova sociedade igualitária e justa favorável aos trabalhadores.

Hoje, o termo "Terceira Via" ficou mais associado a uma modalidade da corrente democrática do "terceiro caminho" desenvolvida nas décadas de 1980 e 1990, sob a influência das ideias do sociólogo Anthony Giddens e do "novo trabalhismo" britânico liderado por Tony Blair. Nesse sentido britânico, a Terceira Via defende a democracia e a justiça social (redução das desigualdades) combinadas com o equilíbrio das contas públicas, o combate à inflação, descentralização, parcerias público-privadas e estímulo ao mercado. Em suas linhas gerais, essa Terceira Via foi adotada pelo Partido Democrata dos EUA, sob o governo Bill Clinton, e pelo PSDB, no Brasil, sob FHC. Mas mesmo essa posição tem subvariáveis econômicas (maior ou menor desregulamentação, privatizações). Grosso modo, os defensores de um Terceira Via menos estatizante em termos econômicos foram tachados pelos seus adversários de "direita" e de "neoliberais", ao passo que os mais estatizantes se consideram de "esquerda".
No Brasil de hoje, a "direita" da Terceira Via (que não é "neoliberal"), representada pelo PSDB e pelo candidato Aécio Neves, é também mais democrática e tolerante, além de mais responsável economicamente (mais capaz de retomar o crescimento, modernizar o país, gerar mais empregos e reduzir as desigualdades). A "esquerda" é representada pelo PT e a candidata Dilma Rousseff, que afirmam ser mais dedicados à justiça social, mas que têm demonstrado uma enorme incapacidade de assegurar a retomada do crescimento econômico e uma perigosa intolerância política com a crítica e a oposição, tanto da imprensa quanto dos adversários dos outros partidos. O PSB e a candidata Marina, por sua vez, parecem representar uma linha também esquerdizante da Terceira Via (fizeram parte do governo petista), ainda que sua assessoria econômica oficial esteja mais próxima de posturas mais a direita. Marina, e não necessariamente o PSB, também tem dado sinais de intolerância com a crítica e a divergência política. Diante de tudo isso, hoje, Aécio e o PSDB representam a melhor alternativa democrática e moderna para o Brasil nos limites de uma Terceira Via.

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