Um "longo textinho" meu
a respeito da base ideológica dos candidatos ao governo do Brasil:
Desde 1994, todos os principais
presidenciáveis defendem para o Brasil alguma modalidade de TERCEIRA VIA, uma política intermediária
entre a total ou ampla estatização da economia (proposta pelo socialismo
marxista da extrema esquerda) e a não intervenção estatal ou Estado mínimo
(proposto pela direita liberal, chamada também de "neoliberal"). A ideia de um "terceiro caminho" de
modernidade (a sociedade industrial e secular) entre o socialismo estatizante e
o capitalismo liberal ganhou força no Ocidente com (1) a transformação do
socialismo reformista, que preconizava abolir o capitalismo gradualmente por
meio de reformas, na SOCIAL-DEMOCRACIA (processo iniciado no final do século
XIX e concluído em meados do século XX) e (2) com ascensão do FASCISMO/NAZISMO (décadas
de 1920 e 1930). Ambos possuíam em comum a aceitação de um capitalismo
regulamentado, se necessário com a estatização de um setor ou outro, combinado
com amplos serviços públicos e uma legislação social que protegeria os
trabalhadores na economia de mercado. Era a idealização de um Welfare State ou
Estado de bem-estar social, objetivo reforçado pelas ideias econômicas do
keynesianismo (Estado interventor estimulando a geração de empregos, inclusive
com obras públicas) difundidas sob o impacto da Grande Depressão dos anos de
1930. Obviamente, existiam diferenças entre esses tipos de "terceiro
caminho". Entre elas podemos destacar a manutenção da democracia liberal
(multipartidarismo, eleições livres, liberdade de expressão, tolerância
ideológica) e de sindicatos livres pela social-democracia e sua substituição,
no fascismo, pela ditadura monopartidária em nome de um nacionalismo extremista
(o partido representa a nação e submete o indivíduo e todas as classes a sua
liderança), com sindicatos controlados pelo governo. Essas duas modalidades gerais
de "vias alternativas" (a democrática e a autoritária), com suas
variáveis, existem até hoje. Algumas enfatizam uma maior presença do Estado na
economia, outras uma maior desregulamentação e algumas privatizações (essas são
erradamente acusadas pelos estatizantes de "neoliberais") . Algumas
são mais intolerantes com a oposição política, outras sabem conviver
democraticamente com a crítica e a divergência. Mas todas defendem, em graus variados, uma
presença do Estado na economia, serviços públicos de qualidade e legislação
social e trabalhista, de uma forma que tanto os liberais clássicos e os
socialistas marxistas condenam. Os liberais clássicos consideram que o
"terceiro caminho" limita a livre iniciativa no mercado e impede ou
reduz drasticamente o progresso econômico. Os socialistas afirmam que o
"terceiro caminho", por preservar o capitalismo, mantém as diferenças
de classes (e, portanto, a "luta de classes") e impede a construção
de uma nova sociedade igualitária e justa favorável aos trabalhadores.
Hoje, o termo "Terceira Via"
ficou mais associado a uma modalidade da corrente democrática do "terceiro
caminho" desenvolvida nas décadas de 1980 e 1990, sob a influência das
ideias do sociólogo Anthony Giddens e do "novo trabalhismo" britânico
liderado por Tony Blair. Nesse sentido britânico, a Terceira Via defende a
democracia e a justiça social (redução das desigualdades) combinadas com o equilíbrio
das contas públicas, o combate à inflação, descentralização, parcerias
público-privadas e estímulo ao mercado. Em suas linhas gerais, essa Terceira
Via foi adotada pelo Partido Democrata dos EUA, sob o governo Bill Clinton, e
pelo PSDB, no Brasil, sob FHC. Mas mesmo essa posição tem subvariáveis
econômicas (maior ou menor desregulamentação, privatizações). Grosso modo, os
defensores de um Terceira Via menos estatizante em termos econômicos foram
tachados pelos seus adversários de "direita" e de
"neoliberais", ao passo que os mais estatizantes se consideram de
"esquerda".
No Brasil de hoje, a "direita" da Terceira Via
(que não é "neoliberal"), representada pelo PSDB e pelo candidato
Aécio Neves, é também mais democrática e tolerante, além de mais responsável
economicamente (mais capaz de retomar o crescimento, modernizar o país, gerar
mais empregos e reduzir as desigualdades). A "esquerda" é
representada pelo PT e a candidata Dilma Rousseff, que afirmam ser mais
dedicados à justiça social, mas que têm demonstrado uma enorme incapacidade de
assegurar a retomada do crescimento econômico e uma perigosa intolerância política
com a crítica e a oposição, tanto da imprensa quanto dos adversários dos outros
partidos. O PSB e a candidata Marina, por sua vez, parecem representar uma
linha também esquerdizante da Terceira Via (fizeram parte do governo petista),
ainda que sua assessoria econômica oficial esteja mais próxima de posturas mais
a direita. Marina, e não necessariamente o PSB, também tem dado sinais de
intolerância com a crítica e a divergência política. Diante de tudo isso, hoje,
Aécio e o PSDB representam a melhor alternativa democrática e moderna para o
Brasil nos limites de uma Terceira Via.
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